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girl on film

by ana sofia santos

22
Dez13

Um filme, uma Mulher | Melhor Iniciativa | TCN Blog Awards 2013



Obrigado a todos.

Obrigado à Academia, obrigado ao Cinema Notebook e à Take Cinema Magazine, que é como quem diz, obrigado Carlos Reis e obrigado José Soares
Obrigado Manuel Reis. Tens talento. Jorge Rodrigues - és a mulher mais feia que já vi. 
Parabéns aos nomeados e parabéns aos vencedores. Permitam-me deixar umas felicitações particulares e pessoais - parabéns à Catarina, ao Aníbal, ao Gabriel, ao Tiago, ao Jorge e ao Edgar. São especiais. 
Obrigado David Martins por me teres dado a oportunidade de conhecer esta gente toda. Um obrigado ao Duarte Lázaro por estar sempre disponível para aturar as minhas loucuras estéticas e ao Hugo Correia por estar sempre à distância de um clique. 

Foi com muita honra que subi ao palco do Auditório Rainha Santa Isabel. Um espaço que já foi a minha casa e que muito me deu pessoal e profissionalmente. Aqui confesso que a ausência de palavras na altura dos agradecimentos se deveu - mais do que ao facto de ter ganho - ao facto de ter regressado ao Centro Cultural Casapiano. 
Os tempos não têm sido fáceis. A falta de tempo para ver filmes e sobretudo para escrever sobre eles, tem sido uma constante. Novo emprego, casa nova. Preciso de mais tempo e de mais organização na minha vida para conseguir voltar a alimentar o blogue como deve ser. Prometo que vou lutar por isto. 

Uma palavra de agradecimento aos meus pais, porque têm paciência para me aturar e porque sempre respeitaram a minha forma de ser e de estar. Muitas vezes, mesmo que não concordem, respeitam. Não sou uma pessoa fácil, não tenho meios termos. Digo o que tenho a dizer e nunca mando recados ou encomendo retaliações. Gosto do que gosto, não gosto do que não gosto. Dificilmente esqueço aqueles que me ameaçam, mas luto por ignorá-los. 

Não sou crítica de Cinema ou de Televisão, sou simplesmente uma amante de Cinema e de Televisão. Este blog não tem pretensões profissionais. É só um espaço onde partilho coisas que gosto e me atrevo a escrever as minhas opiniões sobre filmes ou séries. Um espaço onde gosto de aliar o cinema e a televisão à moda, à fotografia e à publicidade. Quando escrevo, escrevo certa de que cometo muitas vezes erros - não só de ortografia, mas sobretudo de cinematografia. Mas, isto é só um hobbie e nada mais do que isso. Um espaço feito primeiro que tudo, para mim e depois para os outros.

Mas mesmo ciente disto, foi com um imenso orgulho que recebi três nomeações aos TCN. Tudo farei para continuar a trabalhar neste espaço e tudo farei para não desiludir aqueles que votaram em mim e que acham alguma piada ou interesse aquilo que faço. Mas uma coisa é certa - o girl on film, será sempre o espaço da Sofia Santos e nunca será outra coisa só para agradar elites ou públicos mais exigentes. Publicará notícias quando assim entender, posters, trailers, anunciará mortes e celebrará vidas. Para coisas mais profundas e sérias, existe a crítica profissional, os sites e blogues especializados, os livros e as revistas temáticas. 

Quero terminar, dizendo que a vitória da Iniciativa "Um filme, uma mulher" não é só minha, mas sim de todos aqueles que nela participaram. 
Um obrigado. Beijos, abraços e um até já!

10
Jun13

Um filme, uma mulher. Texto final



Antes de mais, um grande obrigado ao Duarte Lázaro e ao Joaquim Matos pela paciência gráfica, e por me terem facultado as ferramentas que permitiram dotar a iniciativa de algum aprumo estético. 
Depois, um GRANDE obrigado aos 41 participantes da iniciativa "Um filme, uma Mulher". Confesso que não esperava tantas respostas positivas, nem tanta participação por parte daqueles que convidei.
Foi com muito carinho que percebi esta iniciativa também serviu para dar a conhecer blogs que muitos desconheciam e que de certa forma, provou que a comunidade de bloggers cinéfilos é unida à sua forma, seja pela partilha, por um comentário ou por um simples "like". 
Obrigado por terem perdido tempo comigo, foi um gosto recebe-los cá em casa. Tenho  plena consciência que me esqueci de convidar muitos e a esses peço uma sentida desculpa. Sei que não tenho comentado os textos publicados, mas os dias de 24 horas, têm sido muito curtos.
Àqueles que convidei e que não puderam participar, deixo também, um obrigado. Tenho a certeza que novas oportunidades acontecerão, seja neste espaço, seja nos vossos.
Uma palavra também, àqueles que convidei e não responderam - estejam certos, que até um não, teria sido bem aceite. 

Durante 4 semanas passaram por este blog, mulheres que se destacaram no Cinema. Algumas por serem femmes fatales, outras por serem destemidas  outras por serem mães, outras amantes, outras por simpatias fervorosas e causas cinematográficas. Umas oriundas de um cinema mais comercial outras com características mais eruditas, mas todas elas Mulheres.
Aqueles que me conhecem melhor, sabem que não sou de todo feminista, sou sim, uma defensora da igualdade entre sexos. E não foi, de todo, com o propósito extremista da causa feminina que pensei esta iniciativa. O propósito prendeu-se sobretudo com o titulo do blog (sim a música dos Duran Duran, com um "s" a menos) e pelas características e cunho feminino que tento sempre dar a este espaço. Infelizmente, como repararam, a participação de bloggers femininas nesta iniciativa, foi muito reduzida. É um facto que somos poucas, mas creio que significativas - e cada uma de forma peculiar.

-- // -- 



Escolher uma mulher para falar não foi fácil. Pensei numa abordagem romântica, pensei numa louca, numa doente, numa guerreira, etc. etc. etc. Por fim, resolvi que a eleita devia ser alguém que marcou a História e que não foi ignorada pelo Cinema.

Obrigado a uma grande mulher, a Telma de Mattos Ruas, a minha professora de História Institucional e Política da Idade Moderna, por me ter feito apaixonar por esta época histórica e sobretudo por me dar a conhecer Catarina de Médicis.

Assim sendo, o filme é La Reine Margot. A mulher: Catarina de Médicis.



A Mulher mais óbvia para abordar neste filme seria Margarida de Valois, mas na tabela de avaliação de Mulheres com "M" grande, a sua mãe, vence com muitos pontos de avanço.
É claro que uma abordagem cinematográfica a uma figura histórica real, tem sempre os exageros óbvios, por se tratar de um filme. Mas o filme não exagera quando retrata Catarina como uma estratega politica, militar e sobretudo matriarca temível.
No entanto, o filme de Patrice Chéreau não é baseado em factos ou fontes históricas, mas sim na obra La Reine Margot de Alexandre Dumas, o primeiro de uma série de livros baseados na família Valois. 



«Henri vit ce sourire et reconnut que c’était Catherine surtout qu’il fallait combattre. “Madame, lui dit-il, tout vient de vous, je le vois bien, et rien de mon beau-frère Charles; c’est vous qui avez eu l’idée de m’attirer dans un piège; c’est vous qui avez pensé à faire de votre fille l’appât qui devait nous perdre tous; c’est vous qui m’avez séparé de ma femme, pour qu’elle n’eût pas l’ennui de me voir tuer sous ses yeux…» 
  • La Reine Margot, Alexandre Dumas /1845 
  • Virna Lisi, La Reine Margot, Patrice Chéreau / 1994


A Catarina do filme (interpretada pela musa italiana Virna Lisi) é uma mulher que já passou por muito. De origem italiana, filha de Lorenzo de Médici, Duque de Urbino e Madalena de la Tour-d'Auvergne, Condessa de Auvergne. Casou aos 14 anos, com Henrique, filho do rei Francisco I de França. Foi mãe de dez filhos, entre eles os futuros reis Francisco II,  Carlos IX e Henrique III
Francisco II morre de otite em 1559 e o trono de França passou sucessivamente para Catarina de Médicis, que foi rainha regente enquanto os filhos eram menores. Exerceu grande influencia no reinado de Henrique II (o seu marido) e dos filhos Francisco II, Carlos IX e Henrique III.

1572

A França é palco de um cenário de guerras religiosas - católicos versus protestantes.
Carlos IX foi nomeado rei aos 10 anos, sendo que é a sua mãe que detém o poder até à sua maioridade. O rei cresce e a História avança. Ao longo de todos estes anos, Catarina esforça-se por travar os conflitos religiosos que dividem o país, procurando manter uma relação diplomática com os protestantes (ou huguenotes), liderados por Gaspar de Coligny, e com os católicos, liderados pela casa de Guise. Coligny era um almirante francês que tinha grande influência sobre o rei Carlos IX. O Rei considerava-o um "pai". 





Catarina, de forma a conseguir paz, forja uma aliança - o casamento da sua filha Margarida de Valois (Isabelle Adjanicom o primo, Henrique de Bourbon (Daniel Auteuil), então rei de Navarra (futuro Rei de França - Henrique IV). Esta foi uma manobra politica e diplomática tão descarada que até os menos atentos, perceberam as verdadeiras intenções. 
Mas a guerra contra a França católica já esta a ser preparada por Coligny e afinal, o casamento torna-se nada mais, nada menos, do que uma armadilha planeada pelos católicos contra os protestantes. 




Paris estava a ser assolada por um calor tórrido. A 18 de Agosto, os protestantes das províncias começam a chegar à cidade para assistir ao casamento. Vestidos de preto invadem ruas e ruelas, em clara atitude de provocação. E o casamento que se pretendia ser um primeiro passo para a paz torna-se, na verdade, um detonador para um dos maiores massacres da história de França. Entre 23 e 24 de Agosto, em Paris, no dia de São Bartolomeu, ocorre o Massacre da Noite de São Bartolomeu e durante esta noite quase todos os protestantes que estavam em Paris por causa do casamento, foram dizimados brutalmente. 




A crueldade da cena do casamento de Margarida é representativa daquilo que se chamava diplomacia. É que a matriarca da família Médicis era mãe dos seus filhos mas também era mãe de uma nação que estava a desmoronar-se com o surgir de novos ideais religiosos e humanistas. Se Isabel I foi a "rainha virgem", Catarina de Médicis, foi a "regente viúva". Ambas casaram com o país. 
O filme arrisca e vai mais além, abordando alguns pontos de promiscuidade na família que incluem incesto e pedofilia. Catarina foi fria, calculista, déspota, austera. Ditadora, dotada de poucos escrúpulos, colocou a família (para os mais românticos) e o reinado (para os mais realistas), sempre à frente de tudo e nunca olhava a meios para atingir fins. Rodeava-se de pessoas importantes da corte, de perfumistas e envenenadores, sendo que uma das suas mortes encomendadas mais famosas, foi a de Margarida de Navarra (mãe daquele que viria a ser seu genro).
Os interesses de França eram os mesmos da Casa Real e portanto, Catarina fez tudo pelos seus, até - segundo reza a História - matou alguns deles. 



"Celle qui donne le jour n'est
plus la mêre de celui qui l'a reçu."
Carlos IX, La Reine Margot, Patrice Chéreau / 1994

La Reine Margot alcançou o estatuto de drama épico francês ao abordar o "jogo" político e religioso da França Moderna. Nos holofotes está Margarida, mas no centro do turbilhão de maldade e de traição está Catarina. O filme de Patrice Chéreau é um deleite cinematográfico, pelos cenários (que incluem o Convento de Mafra), pelas roupas e caracterização, pelas intrigas palacianas explicadas num argumento que talvez não seja fácil de seguir, sem um conhecimento prévio da História. É um daqueles filmes, que considero "documento". La Reine Margot foi muito premiado - incluindo o Prémio Especial do Júri em Cannes, mas foi Virna Lisi a sua estrela principal. Em 1994, recebeu o prémio de Melhor Actriz no Festival de Cannes e o Prémio César por seu trabalho neste filme.




07
Jun13

Um filme, uma mulher. Por David Chaves



Filme: Alien. MulherRipley

Não devia ter mais de 10 anos e enfiado na cama olhava para a janela de estores corridos que se debatiam contra os caixilhos mesmo à minha frente. Era uma noite de vendaval, mas não era o vento que me preocupava. Aquele monstro tinha-me ficado colado à mente e quase que o podia ver emergindo na escuridão. Não estou certo de ter chamado pelos meus pais a dada altura, mas gosto de pensar que não o fiz, que adormeci tranquilizado porque afinal de contas aquela mulher tinha acabado com ele no fim. O filme era Alien, ela era Ellen Ripley e foi um dos meus primeiros e mais intensos contactos com o terror.

Alien, filme obrigatório quando se fala no cinema de terror vive à custa de uma ambiência de horror pelo desconhecido, e sobretudo horror pelas consequências do conhecimento adquirido. A velha fábula Lovecraftiana da curiosidade matar o gato, uma das formas mais transversais de todo o género cinematográfico que incita ao medo. No filme a nave espacial mineira Nostromo que transporta uma tripulação de sete recebe um SOS vindo de um planeta das redondezas. O código da mensagem não é totalmente descritivo, mas mesmo assim a tripulação acorda do seu longo sono em criogenia e decide investigar. Ellen Ripley (Sigourney Weaver) está entre os sete, caminhando à cautela através desse mistério. Antes da cena filmada no planeta todo o filme está imerso numa névoa atmosférica claustrofóbica e o ritmo é propositadamente lento. Ridley Scott perde o seu tempo a filmar o cenário muito orgânico da nave, os corredores estreitos, os decks metalizados e sobretudo a própria nave movendo-se no espaço. Tudo isto transmite uma sensação de isolamento que a própria tripulação vive dentro da nave depois de acordar desorientada muito antes de chegar ao seu destino, a Terra.




Já no planeta, Dallas, Lambert e Kane rumam à origem do sinal e descobrem uma nave espacial alienígena  Os cenários magníficos até esta altura são a grande bandeira do filme. O'Bannon ficou a conhecer o trabalho do suíço H. R. Giger quando trabalhou em Dune e foi um dos seus desenhos que o inspirou a escrever a história de Alien. Já muita coisa foi dita sobre o trabalho de Giger para Alien, mas é mesmo verdade que sem nos esforçarmos muito conseguimos ver pénis e vaginas frame sim, frame não. O interior da nave espacial alienígena  repleta de negrume e humidade, lembra o interior de um corpo com as suas vísceras a pulsar de vida. Kane desce até uma espécie de cave onde se encontram muitos ovos cobertos por uma espécie de névoa azulada - cortesia dos The Who que emprestaram o seu sistema de lasers à produção para os testar para um concerto - e é aí que a primeira agressão acontece.



Surpreendentemente o filme joga também com a noção de um protagonista ausente, concentrando-se antes em mostrar a dinâmica de um grupo de pessoas. Ripley não é de todo a personagem principal ao longo da primeira hora do filme, e se tivesse de dizer em quem o filme se foca diria que seria a personagem de Tom Skerritt (Dallas), o capitão da nave. Mas a noção de um protagonista justo e determinado em Dallas esvai-se à medida que o tempo passa. Dallas ao regressar da superfície do planeta com um aranhiço colado ao rosto de Kane, tenta encobrir a situação para entrar na nave (enquanto Ripley nega a sua entrada), Dallas opta por conservar o bicho já desprovido de vida dentro da nave (ignorando as sugestões de Ripley) e acima de tudo, é Dallas que ao aventurar-se dentro dos canais de ventilação da nave (negando essa hipótese a Ripley que se tinha voluntariado) em perseguição do Alien, perde a coragem, tenta regressar à segurança e acaba por conhecer o seu fim. É nesta altura que a personalidade de Ripley se assume como dominante e ganha contornos mais vincados. E é esse, quanto a mim o maior trunfo do filme. Uma mulher que se vê traída por todos: pelos seus colegas (que morrem), pela Companhia (que a trai), pelo cientista de bordo (que afinal é um andróide com uma agenda escondida) e até pela própria inteligência artificial da nave (Mother! You bitch!). 

Rodeada em todos os aspectos por um ambiente que lhe é hostil, Ripley passa a modo de sobrevivência afirmando-se como um ícone feminino de coragem e determinação e escancarando a porta a pontapé para no futuro as mulheres puderem ter um papel preponderante como símbolos de força e assertividade em géneros tipicamente governados por homens. No seu semblante carrega uma dignidade ímpar, oscilando entre a vulnerabilidade e a coragem.




O último acto não constava no guião e foi acrescentado por Ridley Scott que pediu mais dinheiro aos estúdios e que funciona de novo como anzol lançado ao espectador: Ripley em cuequinhas a preparar-se para dormir, tudo está bem, mas o Alien ainda lá está, refugiado na nave e a preparar-se para atacar. O final já todos sabemos dentro do filme, o Alien morre e Ripley sobrevive, mas fora dele, o legado de uma mulher autónoma confrontada com uma história de horror e tomando as rédeas do seu destino permanece intacto e marca a transição do paradigma associado ao papel da mulher no cinema dentro de Hollywood.

07
Jun13

Um filme, uma mulher. Por Edgar Ascensão





Filme: Alien. MulherRipley
(IMDb)
Filme: Thelma & Louise. MulherLouise Sawyer
(IMDb)

(Nota: Dada a peculiaridade das escolhas do Edgar e visto tratarem-se de criações gráficas e inéditas para uma série, existem duas mulheres e dois filmes distintos)


Como não saía nada para posters clássicos, decidi expandir a minha série "Movie Quotes with-a-gun" e criar uns exemplares no feminino!
Porque elas também merecem.
No que à Ripley diz respeito, sei que ela não diz a frase com aquela arma na mão, mas sim no powerloader. Quis assim juntar os dois melhores momentos do filme num só.





07
Jun13

Um filme, uma mulher. Por Jorge Rodrigues






Filme: The Hours. Mulher(es)Clarissa VaughanLaura BrownVirginia Woolf
(IMDb)

Quão raro é o privilégio de sermos presenteados com um filme que não só reúne três das mais importantes e inspiradoras actrizes da actualidade como lhes dá papéis dignos do seu talento e valor, um filme que não reduz as suas personagens femininas a clichés, a reflexos dos seus pares masculinos ou as trata como figuras reactivas, existindo apenas para completar a caracterização do protagonista masculino, fazendo delas o centro, o prato principal em torno do qual toda a narrativa gira – e os homens, em “The Hours”, são pouco mais que a sobremesa dessa ementa. 

Para começar: “The Hours” junta o génio (génio, não talento, como bem distingue Penelope Cruz em “Vicky Cristina Barcelona”, outro bom exemplo que poderia constar desta rubrica) individual de Meryl Streep, Julianne Moore e Nicole Kidman (premiada com um Óscar precisamente por esta interpretação) a um elenco composto por Claire Danes, Miranda Richardson, Allison Janney e Toni Collette e ainda Ed Harris, Stephen Dillane, John C. Reilly e Jeff Daniels. São duas horas basicamente a assistir todas estas fabulosas actrizes a trocarem cenas entre si, duas horas de depressão, opressão e repressão enquanto estas actrizes e as suas personagens “vivem”, debaixo da alçada da magnífica banda sonora de Philip Glass, com um sentido de urgência no mundano, de assombração por detrás da fachada destas mulheres (aliás, continuem a ler o artigo com isto (http://www.youtube.com/watch?NR=1&feature=endscreen&v=JOO_vh8zLQ0 a tocar no fundo).


Virginia: [escreve] “Mrs. Dalloway said she would buy the flowers herself”

Laura: [lê] “Mrs. Dalloway said she would buy the flowers herself”

Clarissa: Sally, I think I’ll buy the flowers myself.


Um dia na vida de uma mulher – e toda a sua vida nesse dia. É assim que Virginia Woolf (Kidman) abre a sua obra-prima, “Mrs Dalloway”. Numa das muitas líricas e inteligentes sobreposições e paralelismos, a entediada e problemática Virginia Woolf surge-nos em 1921 a escrever aquele que viria a ser o seu mais aclamado romance; em 1951, a belíssima e delicada dona de casa Laura Brown (Moore) embarca na leitura do livro, procurando nele explicações para a sua própria vida, perdida de significado; e em 2001 a nervosa e preocupada Clarissa Vaughn (Streep) encarna a personagem que Woolf narrava oitenta anos antes, preparando uma festa para o seu ex-compaheiro enquanto lida com mais um dos seus conflitos existenciais. Arte criada, experienciada e vivenciada. Michael Cunningham era brilhante.

Três personagens tão diferentes e tão semelhantes entre si. Todas aprisionadas numa vida que não queriam ter. Para Laura Brown, a sua casa é a sua prisão. Quanto não lhe apetecia fugir! Para Virginia Woolf, não é a casa que é a sua prisão, é a sua vida. Da sua casa – como de praticamente tudo o resto – Virginia não se deixa aproximar, preferindo a solidão. Para Clarissa Vaughn, a prisão é ela própria, vivendo no constante medo de deixar os outros entrar e ver o que passa pela sua mente, tentando manter sempre as aparências de que tudo está bem.







A frenética e nervosa energia de Clarissa conta-nos tudo o que precisamos saber sobre a sua implosão interna, quase a ponto de deixar-se-ir, de deixar a sua raiva soltar-se. A cena em que se descai em lágrimas na cozinha é uma excelente forma de mostrar como mesmo a pessoa que nos parece a mais forte e independente, a que toma conta de todos, pode ser a que mais precisa de ajuda. Apanhada desprevenida por uma mescla de emoções, os seus falhanços vêm ao de cima e Clarissa vem-se abaixo. Com Laura Brown sucede exactamente o contrário. Por nunca ter definido a sua personalidade, Laura vê-se sem voz. Enquanto que em Clarissa é nas suas expressões que revela o que não quer, Laura é na voz. Do tom mais decidido ao quase suspiro, com múltiplas reticências, Laura mostra-nos o quão despersonalizada é. Uma personagem propositadamente vaga, ausente, perdida num espaço onde só existe ela e mais ninguém. Finalmente, Virginia. Um poço de fúria, de angústia, de revolta, tudo nos seus olhos. Feroz, determinada e complicada, Virginia não consegue estar satisfeita com a vida que tem. Ela é mesmo o que é – sem tirar nem por – e talvez por isso seja a mais incompreendida das três, arrumada para canto com a desculpa de uma doença mental que ninguém sabe muito bem como diagnosticar.

Muitos preferem ver “The Hours” como um filme que aborda três mulheres à beira do desespero, duas delas tentando mesmo o suicídio e por isso descartam-no como um desvaneio deprimente de um escritor com mania de lírico. Para mim, ao entrecruzar os três ângulos narrativos em paralelo em vez de em sequência, colocando o autor, o alter ego e o leitor no mesmo plano e forçando-nos a partilhar do fragmentado e imperfeito mundo destas três infelizes mulheres, “The Hours” mostra-nos como só o amor e o tempo são ambivalentes, complexos e intemporais. Tudo o resto, como as conexões, a humanidade, a felicidade, se esvai.
“Always the love. Always the hours.”




06
Jun13

Um filme, uma mulher. Por Rui Francisco Pereira





FilmeThe Girl with the Dragon Tattoo. MulherLisbeth Salander


“Os Homens que Odeiam as Mulheres” é uma obra hipnótica, suja e atraente. A alma do filme de Fincher é sem dúvida Lisbeth Salander, uma personagem feminina absolutamente inesquecível.
De visual alternativo e provocador, inteligência abundante e grande coragem, Lisbeth transpira sensualidade, sexualidade e excitação. Agarra o espectador desde o início, nos olhares, nas atitudes, nas palavras.  Enfim, na sua essência, é uma autêntica mulher-furacão, que repulsa e fascina em igual quinhão, mas que promete ficar recalcada na mente de qualquer um como uma das mais fascinantes personagens femininas do Cinema recente.
Uma palavra ainda para a portentosa interpretação de Rooney Mara, que transpira dedicação a um papel tão difícil, e que justifica numa base constante a justa nomeação da Academia para o Óscar de Melhor Actriz.






Contacto

Ana Sofia Santos: blog.girl.on.film@gmail.com

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