Elizabeth Sloane (
Jessica Chastain) é a melhor, a mais requisitada e a mais bem sucedida lobista de Washington. Conhecida pela determinação, astúcia e pelo histórico de sucesso, Sloane faz tudo para vencer, mas quando recebe como adversário o lóbi mais poderoso da sua carreira (o pró-armas) usa todos os trunfos - por vezes pouco correctos - para tentar superar uma "guerra" quase impossível de vencer.
Esta sinopse pode dar a impressão de que este assunto podia ser abordado numa hora mas o filme tem 132 minutos. É verdade, Miss Sloane tem mais de duas horas. Pode ser uma critica negativa se o virmos depois de um dia de trabalho e se além do cansaço, padecermos de dores menstruais ou de dores de dentes (para que os leitores do sexo masculino não se sintam excluídos da conversa). Para esta humilde espectadora, o filme é longo mas valeu a pena.
Depois de terem consciência da duração do filme, convém que tenham em atenção que é sobre política norte-americana, sobre os enredos dos bastidores, sobre o termo americano
lobby. Esta actividade legal e, neste caso, profissional que significa exercer pressão sobre poderes políticos de forma a influenciar a tomada de decisões de poder. Estes "influenciadores de opinião" fazem com que os políticos votem a favor ou contra uma determinada lei/projecto e representam os interesses de empresas, partidos ou outro tipo de organizações. Este não é um tema propriamente apelativo para quem não gosta, não percebe ou nem tem curiosidade sobre este tipo de estratégia política.
Feito este pré-aviso, Miss Sloane foi uma agradável surpresa. E muito do positivo do filme é da responsabilidade do elenco. A escolha e conjugação de actores foi perfeita. Jessica Chastain é absolutamente sublime, não só esteticamente mas pela sua entrega à personagem. De notar que em momento nenhum o seu brilhantismo ofusca ou diminui os restantes actores. A empatia da protagonista com o igualmente fabuloso Mark Strong é evidente e até a relação difícil, ameaçadora e perigosamente antagónica com o veterano actor Sam Waterston - é dinâmica e fundamentada. Também John Lithgow, Alison Pill, Gugu Mbatha-Raw e o soberbo Michael Stuhlbarg merecem palavras de enaltecimento.
Este é um daqueles filmes que é difícil escrever sem contar muito e se escrevermos muito, desvendamos muitos detalhes, o espectador perde o interesse e o factor surpresa do fim do filme pode ser revelado sem intenção. É um filme que merece ser visto com atenção aos detalhes, um filme que os fãs de House of Cards devem ver.
John Madden não teme e aponta o infestado mundo do lóbi político norte-americano. Mostra o cinismo do público e compara-o com a forma como as coisas realmente acontecem no Capitólio, onde tudo acontece por dinheiro e contactos. Como um thriller dramático e mesmo apesar de alguns truques mais teatrais e exageros no argumento de Jonathan Perera, Miss Sloane provoca o espectador, desafia-o a olhar e pensar "além do filme". É também uma crítica à Constituição americana, questiona a integridade do Ser Humano, em especial dos políticos e daqueles que têm ambições além do real.
"Lobbying is about foresight. About anticipating your opponent’s moves and devising counter measures. The winner plots one step ahead of the opposition. And plays her trump card just after they play theirs. It’s about making sure you surprise them. And they don’t surprise you."