Opinião ▪ Solo: A Star Wars Story | Ron Howard. 2018
Bons, maus ou assim assim, um facto é incontornável, com os últimos três filmes da saga Star Wars - Star Wars: The Last Jedi, Rogue One: A Star Wars Story e Stars Wars: The Force Awakens - a Disney já recuperou o dinheiro que investiu na compra da Lucasfilm.
Negócios à parte, quando começaram os rumores acerca da realização de um filme sobre uma das personagens mais marcantes da saga, Han Solo o cepticismo foi o sentimento vigente entre os fãs do universo criado por George Lucas.
O conceito de Solo foi difícil de vender. Independente de alguns sentimentos sobre a precuela (trilogia), grande parte do encantamento Star Wars têm-se deteriorado nestas histórias que servem ou tentam preencher as lacunas desta Galaxy Far, Far Away. Avançar com uma história "individual" de uma personagem tão querida como é Han Solo era um risco. Poucos clamavam para ver um filme que iria explorar os primeiros anos do famoso contrabandista. O conceito de ter outro actor a reencarnar um papel eternizado por Harrison Ford foi suficiente para os fãs temerem uma blasfémia. Para muitos, a única luz ao fundo do túnel foi o facto de que o argumento ter sido co-escrito e supervisionado por Lawrence Kasdan, já habituado a este universo e possuidor de conhecimento, compreensão e respeito pelo carácter e pela história de Han.
As preocupação atingiu valores mais elevados quando os realizadores Phil Lord e Chris Miller foram demitidos a meio da produção e substituídos por Ron Howard. O facto de Solo: A Star Wars Story estar agora nos cinemas é quase um milagre!
Solo tem como objectivo capturar a energia e as raízes da saga Star Wars sem se atrever a entrar de forma abrupta na grandeza "mitológica" dos primeiros filmes. Este facto deve-se muito ao facto de que Howard e Kasdan, que partilha a escrita com o seu filho Jonathan, usarem como cenário principal a sujeira e a fuligem do submundo galáctico. O Império e a rebelião crescente têm um papel secundário. Esta é uma história de pessoas comuns que estão subjugadas a vários tipos de governos tirânicos e que têm uma vaga noção de que é possivel sobreviver e lutar, se se unirem. É uma pausa bem-vinda entre as terríficas e grandiosas lutas pelo domínio galáctico.
A galáxia vive um tempo sem lei. Nas ruas de Corellia, um jovem chamado Han (Alden Ehrenreich) tenta com a sua amiga de infância e namorada, Qi'Ra (Emilia Clarke) fazer o roubo de uma vida e fugir da ditadura em que viviam. No entanto, quando Han entra em conflito com os líderes locais, o jovem é forçado a fugir deixando a sua antiga vida e Qi'Ra para trás. Agora, à mercê do Império, Han vê-se envolvido numa nova e imortal vida entre criminosos e gangsters e tenta realizar o sonho de se tornar piloto.
O que torna este filme uma aventura agradável é o seu elenco. Apesar das catadupas de críticas e de ceticismo, Alden Ehrenreich faz um trabalho louvável como Han Solo. Embora claramente inspirado pelos maneirismos da visão icónica de Ford, Ehrenreich cria o seu próprio nível de charme e de arrogância característico desta personagem e é fácil aprecia-lo sem perder de vista o legado. Mas a relação amorosa entre a figura principal do filme e Qi'Ra de Emilia Clarke é o aspecto mais negativo das interacções entre actores. A empatia entre os dois não foi atingida e a dinâmica não cumpre o objectivo. A culpa não é tanto do jovem Alden mas sim pelo facto de que, um fã de Game of Thrones, esperar a qualquer momento a entrada em cena de dragões com mau feitio.
Também Tobias Beckett, de Woody Harrelson não convence na totalidade. Harrelson é um actor cujo talento está mais que provado mas Solo parece dar um aspecto inseguro à personagem que interpreta. Há algo de desconfortável nesta figura de mentor do actor titular. O resultado dá origem a algumas trocas estranhas e mensagens mistas, mesmo que chegue a uma conclusão satisfatória. Também Paul Bettany merecia mais tempo de antena como Dryden Vos.
Joonas Suotamo voltou a encarnar o tão amado Wookie de maneira admirável. A amizade de Chewbacca e Han é o coração do filme. A relação entre os dois nasce de uma forma inesperada, mas de forma inteligente origina cenas surpreendentemente encantadoras.
O destaque a Lando Calrissian, de Donald Glover e à sua parceira droide L3-37, que tem como voz a maravilhosa Phoebe Waller-Bridge, tem que ser feito. Glover está na moda, não só pelo trabalho que tem feito na televisão mas também e muito pelo seu trabalho na música, como Childish Gambino. Em Solo faz um óptimo trabalho e faz jus ao hype. Interpreta o jogador de fala suave, charmoso e arrogante que fez a primeira aparição em Star Wars: Episode V - The Empire Strikes Back e foi interpretado por Billy Dee Williams.
Os Kasdans também adicionam uma peça importante à personagem de Lando, a já mencionada L3-37. Uma revolucionária dróide encarnada brilhantemente por Waller-Bridge. Esta adição tão única e nova à franquia é engraçada nas suas interacções inesperadas com Lando, mas o conceito principal de uma droide consciente da sua própria subserviência e a defesa pelos "irmãos mecânicos" é uma visão refrescante e divertida. É uma sindicalista galáctica, com um peculiar palavreado e irreverencia singular.
Solo, ao contrário de outras histórias deste universo, "brinca" com o legado sem o envergonhar. Leva os espectadores num passeio que é frequentemente divertido e muitas vezes feito com escolhas criativas inteligentes. Pela primeira vez, Star Wars não é um evento colossal, é um filme de entretenimento puro, consciente do seu Passado mas sem efeitos especiais em doses colossais ou Jedi's com poderes de ordenha.
Título nacional: Han Solo: Uma História de Star Wars
Data de estreia (Portugal): 24.Maio.2018
Trailer: