Big Brother: é difícil ignorar o óbvio!
“Expect the unexpected!” (“Espere o inesperado”) é a frase que a apresentadora do "Big Brother" (BB) USA, Julie Chen Moonves pronuncia inúmeras vezes aos concorrentes e aos espectadores do Reality Show (RS) norte-americano.
Os RS são dos formatos televisivos mais polémicos de sempre. Muitos abominam-nos, remetendo-os para a categoria lixo televisivo. Outros dizem que não gostam, que nem sequer vêm mas espreitam-nos com um olho aberto e outro fechado. Outros vêm às escondidas. Muitos toleram e até aceitam o bombardeamento de informação na comunicação social, dita cor-de-rosa. Muitos ostentam orgulhosamente a bandeira “sou fã”.
Há RS para todos os gostos. A lista é interminável e impossível de enumerar na integra. Há os de cantorias, como o “American Idol”, “The Voice”. Os românticos como o ”Love Island” ou “Married at First Sight”. De culinária; de arquitetura e design; de maquilhagem, de moda, de tatuagens. Os que seguem a vida de gente famosa, os que implicam estratégia, como o “The Circle” e os que reúnem a resistência física à inteligência e domínio emocional, como o “The Amazing Race” e “Survivor”.
O “Survivor” é, indiscutivelmente, o jogo mais completo deste universo. É literalmente um jogo de sobrevivência em que vários desconhecidos são colocados em locais remotos e perante provas físicas e mentais e sem acesso a qualquer elemento de luxo ou bem essencial têm que sobreviver perante tormentas atmosféricas, a todos os outros e sobretudo à superação individual, dominada pela paranoia e fome constante. No “Survivor “assistimos - literalmente - ao definhar do ser humano pois, diáriamente, vimos os concorrentes a perderem peso e a fazerem de tudo para sobreviver.
Mas o rei e senhor deste universo é sem dúvida o "Big Brother". Atualmente – com edições no ar e em desenvolvimento - é um formato que existe em Portugal, Brasil, Austrália, EUA, Finlândia, Grécia, India, Mongólia, Nigéria, Espanha, Albânia, Bélgica, Canadá, Alemanha, Itália, Holanda e Filipinas.
A Portugal, o formato criado pelo holandês John de Mol e desenvolvido pela Endemol chegou em 2000. O sucesso foi imediato. Concorrentes polémicos, pessoas diferentes, atitudes pouco corretas. O primeiro BB de Portugal deu a vitória ao simples Zé Maria, expulsou o Marco por dar um pontapé a uma colega e abriu as portas – que nunca mais voltarão a fechar - a uma espécie de voyeurismo permissivo.
Desde então, muita coisa mudou. Foram mudando os apresentadores, os formatos, a edições com mais sucesso, sucederam-se outras que não alcançam as audiências esperadas. Mudou sobretudo o palco principal dos Reality Shows. A arena dos gladiadores – fãs acérrimos (alguns no patamar de delicadas patologias) deste formato – são as redes sociais, sobretudo o Twitter.
Na rede social das frases curtas, milhares de perfis – sobretudo falsos - enaltecem ou proscrevem concorrentes. É nas redes sociais que nascem e morrem concorrentes. Que passam de heróis a vilões, ou vice-versa. O impacto deste elemento exterior no BB Portugal é de tal modo grande que chega mesmo a influenciar / impulsionar medidas por parte da produção, no sentido de castigar concorrentes ou de exigir pontos de situação públicos. Aconteceu, por exemplo, na edição “Big Brother - Duplo Impacto”, com a expulsão de um concorrente depois de ter repetidamente feito a saudação nazi dentro da casa.
Um dos pontos mais fortes deste “concurso da vida real”, em todas as versões, é a maleabilidade das regras. Apesar de existir uma espécie de regras chave, as normas são facilmente moldadas. São muitas as vezes em que o contexto de nomeação de um concorrente “à chapa” ou a salvação dos mesmos mudam quase semanalmente. Estas decisões das produções são feitas obviamente para gerar o caos, dentro e fora da casa.
Desde sempre e em todas as versões mundiais, a palavra polémica é a melhor aliada do formato. Romances, declarações homófobicas, atitudes menos correctas, etc..Tudo é visto e revisto à lupa, não só por um número brutal de câmaras mas principalmente pelo olhar muito atento dos fãs.
Tudo é motivo para incendiar as redes sociais: os apresentadores, os comentadores, os concorrentes, a produção…
Se a polémica é a palavra-chave de um RS desta envergadura, a sua melhor aliada é a edição. Apesar de em muitas das edições internacionais do BB existir um canal que transmite em direto o RS, a ideia do 24h sobre 24h continua a ser um mito. Em Portugal, por exemplo, o canal que transmite o jogo, encerra a emissão de madrugada. Propositado ou não, este elemento levanta suspeitas e muito se diz sobre aquilo que acontece enquanto o público não vê.
A produção sabe obviamente que o número de público que consegue assistir ao canal em direto é pouco significativo em relação ao restante e por isso, os apontamentos diários são essenciais. Os resumos, apresentados diariamente em dois momentos distintos: o “Diários” e os “Extras” mostram compilações de cenas, os resumos dos dias, conversas e atitudes dos jogadores em vídeos devidamente editados e pensados ao milímetro para atingir o grau de polémica desejada.
Para o sucesso de uma edição do BB cai muita responsabilidade nos apresentadores. Se na edição americana, a forma como o programa é gerido, quase mecânica, com a interação nos diretos entre a apresentadora e os concorrentes quase inexistente, em Portugal privilegia-se a dinâmica entre as peças chaves do jogo: o(s) concorrente(s) e o(s) apresentado(res). Depressa se percebem empáticas e antipatias e isso, também é o jogo ou movimenta, inequivocamente o jogo.
Mas em Portugal, há outro elemento que distingue o BB dos outros espalhados pelo mundo, a voz do próprio Big Brother omnipresente, perspicaz, intruso, uma entidade que tenta quase sempre ser neutro. É múltiplo (o homem tem que ter pausas), dotado de um humor exímio. Paciente, psicólogo, psiquiatra, docente, pai, mãe, amigo. É a peça chave de todo este puzzle. É talvez a figura mais amada e respeitada do universo… até nas redes sociais. Dos Big Brothers que conheco, este é sem dúvida aquele em que há maior interatividade entre o "Senhor da Casa" e os jogadores.
A nova edição do BB Portugal arranca hoje. É a 11ª – contado com as edições especiais de “Vip’s” e “Famosos”. Há semanas que causa reboliço na comunicação social e nas redes sociais. A incerteza sobre quem ia apresentar o concurso gerou conteúdos sem fim. A responsável máxima pelo projeto avisou que apesar de tudo aquilo que já se sabe, sabemos muito pouco!
Gostemos ou não, uma coisa é certa: o "Big Brother" é impossível de ignorar!
E terminando como começamos, com uma citação de Julie: “Anything that can happen, will happen” (“Tudo o que pode acontecer, vai acontecer”).